Por Airton Daniel
Um dia depois de mais uma manifestação dos seguidores de Jair Bolsonaro, que se aglomeraram em frente ao Palácio do Planalto pedindo a volta da ditadura militar, eis que recebemos a triste notícia da morte do compositor Aldir Blanc.
A ironia é que ele morreu vítima da Covid-19, a mesma doença que tanto o presidente quanto os canalhas saudosos dos tempos de arbítrio insistem em ignorar.
Entre tantas canções imortalizadas graças ao talento de Aldir Blanc, uma em especial marcou a geração que lutou pela redemocratização do país: “O bêbado e a equilibrista”.
Essa canção começou a ser composta entre o Natal e o Ano Novo de 1977, fruto de uma parceria com o músico João Bosco. A princípio, a canção homenagearia o cineasta Charles Chaplin, morto em 25 de dezembro daquele ano.
Contudo, a letra foi ganhando outros contornos e incorporando a luta pela anistia aos perseguidos políticos. E na voz da pimentinha Elis Regina, a música se tornou o hino da liberdade.
Aldir Blanc considerava a canção um registro da união e amizade entre ele, João Bosco, Henfil e Elis Regina. E eu a considero de uma simbologia única, ainda mais levando-se em conta esses tempos sombrios em que vivemos.
Além das referências políticas, a veia poética também se destaca na canção, em versos como: “A lua, tal qual a dona de um bordel, pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel”.
Impossível não comparar essa beleza poética com os cartazes exibidos na praça dos Três Poderes, que destilavam ódio. Ou a simples ignorância. Um deles tinha a seguinte frase: Abaixo a ditadura, pela volta do AI-5″.
Perdão, Aldir, eles não sabem o que fazem.
Flávio Migliaccio
Como se não bastasse a morte de Aldir Blanc, no mesmo dia perdemos Flávio Migliaccio. Segundo a polícia, o ator teria cometido suicídio. O corpo foi encontrado sem vida, no sítio da família em Rio Bonito.
O ator tornou-se conhecido pelos personagens “Tio Maneco” dos filmes Aventuras com Tio Maneco e Maneco, O Super Tio, e “Xerife” da novela O Primeiro Amor, e do seriado infantil Shazan, Xerife & Cia. Ele também interpretou o árabe “Seu Chalita” em “Tapas e Beijos”.
A última participação do ator na TV foi em 2019 na novela “Órfãos da terra”, no papel de Mamede Aud. Ele também participou do filme “Hebe”, sobre a apresentadora Hebe Camargo, juntamente com a atriz Andréa Beltrão.